quinta-feira, 29 de junho de 2017

A chuva no Semiárido alagoano

O Semiárido que é apresentado por alguns meios de comunicação e livros didáticos como o lugar de terra seca, improdutiva, paisagem espinhosa, sem vida, e lugar difícil de viver, nos revela nesse período chuvoso uma paisagem verde, vento frio e aconchegante, e água para quem tem reservatórios de captação de água de chuva poder armazenar e produzir.
Na comunidade Bananeira em São José da Tapera-AL, o agricultor Edésio Alves Melo, popular Dedé disse: “Na comunidade choveu bastante e tenho orgulho de dizer que cada agricultor fez uma roça. Agora não podemos reclamar, porque o inverno está bom graças a Deus”. Na propriedade do agricultor Edésio Alves, existe uma área de reserva de plantas nativas e o local de produção, com água para beber e produzir, solo fértil, produção agrícola e animal.
Junto com filhos e parentes o agricultor fez seis roças, onde foram plantados três sacos de feijão (180 kg), cinco sacos de milho (250 kg), o cultivo de palma e a horta. “O que a gente colher será dividido para todos. É dessa forma que a gente vive trabalhando com a terra e dividindo o pão. Por isso, gosto de ser agricultor, produzir alimento sem agrotóxico e conservar os recursos naturais, mas o agricultor não é valorizado e o que mais mim entristece é a falta de apoio para comercialização, à falta de assistência técnica e a falta de incentivo agrícola que respeite a agricultura familiar”, disse o agricultor.
Agricultor referência em produção agroecológica, Edésio Alves, conquistou com o Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), uma barragem subterrânea que tem oito metros de profundidade e oitenta metros de cumprimento. De acordo com Edésio a área da barragem chega a uma extensão de oitocentos metros e tem capacidade de acumular cerca de 75 milhões de litros de água, considerada a maior barragem subterrânea do Semiárido Brasileiro.
Com a chuva que vem ocorrendo na região à barragem começou a verter. Isso significa que toda quantidade de água vai passar acima do sangrador sem contenção e segue para uma segunda barragem que ele fez com recurso próprio.
Faz cerca de seis anos que o agricultor não vê a barragem cheia, mesmo assim, a família mantém na propriedade em média de noventa e duas espécies de frutíferas, plantas nativas, ervas medicinais, hortaliças, porque a barragem garante a produção no verão.
A produção da família do agricultor atrai a atenção de agricultoras e agricultores, estudantes, pesquisadores, representantes de movimentos sociais, entidades não governamentais entre outros, que visitam a propriedade para ver as riquezas, belezas e os ensinamentos do agricultor que produz com respeito à agrobiodiversidade.
Chuva e produção
Embora as chuvas não ocorram com a mesma intensidade no Semiárido alagoano, se houvesse política para o fortalecimento da agricultura familiar, e conservação dos recursos naturais, a chuva que chega permitiria que mais agricultores e agricultoras conquistassem autonomia e garantisse a segurança alimentar e nutricional. Porque o Semiárido é um lugar de muitas riquezas, mas também, de grande fragilidade em políticas publicas para convivência na região.
Elessandra Araújo

quarta-feira, 21 de junho de 2017

Roça comunitária traz esperança para famílias de agricultores

Foi com o propósito de dividir para multiplicar e estocar as sementes crioulas que vinte famílias integrantes do Banco Comunitário de Sementes aproveitaram a chuva na região e fizeram a roça comunitária no Sítio Açude em Maravilha/AL. As agricultoras e agricultores plantaram trinta e cinco quilos de sementes em um hectare de terra. A iniciativa das famílias contou com o apoio da Articulação Semiárido (ASA) por meio de formação e implementação de tecnologia social.
“A ASA orienta a gente a fazer um trabalho comunitário e solidário, essa é uma forma para conseguir viver no Semiárido. Então, nos últimos cinco anos muitos agricultores perderam as sementes no roçado, devido à estiagem. Graças a Deus choveu no final de abril e maio, mas nem todos tinham sementes para plantar, por isso, quem tinha sementes crioulas dividiu para o grupo, e a gente fez a roça comunitária para abastecer o Banco Comunitário”, disse o agricultor Reinaldo Barbosa Lemos.
A atividade comunitária exigiu organização e divisão dos trabalhos “fizemos uma divisão das tarefas, um grupo para arar a terra, outro para o plantio e um terceiro grupo para capinar. Agora a colheita, secagem e armazenamento das sementes serão realizados pelas vinte famílias”, falou Isrraela Rodrigues Alves filha de agricultores do banco de sementes.
Uma das formas de resgatar as sementes passadas de geração para geração e que são adaptadas ao clima e ao solo do Semiárido, conhecidas em Alagoas como sementes crioulas, é através da troca de sementes e experiências entre agricultores e agricultoras, formação e estocagem nos bancos de sementes.
No Sítio Açude as famílias tinham o Banco de Sementes desde 2010, mas a falta de estrutura e de uma sede própria contribuiu para que algumas famílias se afastassem do banco de sementes.
“Já chegamos a armazenar mil quilos de sementes crioulas, mas nos últimos cinco anos nós perdemos uma boa parte das sementes. E isso desanimou muitos agricultores, porque plantava e perdia. Mas, com o Programa de sementes da ASA as coisas melhoraram”, destacou o agricultor Reinaldo Barbosa.
Apoio à casa de sementes
Em 2016 as famílias conquistaram a sede e estrutura para o funcionamento do banco de sementes crioulas, inclusive a garantia da compra de sementes crioulas para as famílias. A conquista veio através do Programa de Manejo da Agrobiodiversidade Sementes do Semiárido (PMAIS) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA Brasil), executado pela Cooperativa dos Bancos Comunitários de Sementes (Coppabacs).
“As sementes que a gente conseguiu foram plantadas, mas as chuvas foram poucas em 2016 e houve perda. Para alegria da gente teve famílias que conseguiu colher, armazenou e agora dividiu para os demais. Se não fosse o Projeto agora a gente não tinha sementes”, destacou o agricultor.
O agricultor Reinaldo falou com entusiasmo da roça comunitária e disse que aproveitou o período chuvoso para fazer também a roça da família. “Graças a Deus chove na região e isso traz alegria para quem trabalha no campo. Por isso, já plantei de forma consorciada o milho, feijão, abobora e quiabo. Tenho esperança de que vamos conseguir uma boa colheita”, concluiu.
A agricultura familiar precisa de incentivo para produzir e conviver no Semiárido. Precisa de incentivo para conquistar a soberania hídrica, alimentar e nutricional. Precisa de incentivo, assim como o agronegócio que conta com grandes incentivos dos governos federal e estadual.
Elessandra Araújo

terça-feira, 6 de junho de 2017

Encontro da Rede no Semiárido Alagoano

Em um ambiente harmonioso construído com sentimentos de solidariedade, respeito e compromisso, os participantes da Rede Alagoana de Agroecologia construíram propostas e avaliaram os caminhos da agroecologia no Estado, na IV reunião ocorrida nos dias 02 e 03 de junho no Instituto Federal de Alagoas (IFAL) em Santana do Ipanema-AL. Segundo um dos integrantes da rede, Leandro Benatto “A rede vem se desenvolvendo no Estado com o objetivo de fortalecer as diferentes regiões e territórios agroecológicos”.
A rede de agroecologia foi criada em dezembro de 2016 após a primeira caravana intitulada: Mulheres camponesas e a construção da agroecologia na Mata Alagoana, ocorrida no período de 10 a 12 de novembro de 2016.
“A caravana é uma forma de evidenciar as conquistas e os desafios da construção agroecológica no território para o fortalecimento da rede alagoana de agroecologia”, disse o articulador da rede, Benatto.
A próxima caravana será realizada no sertão de Alagoas ainda em 2017. Para planejar esse evento foi formado um grupo de trabalho, que apresentará as propostas na próxima reunião da Rede no dia 04 de julho, na Associação dos Agricultores Alternativos (AAGRA) em Igaci-AL.
Na reunião outros assuntos previstos na pauta foram discutidos como: a situação do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) em Alagoas, encontro de sementes crioulas, ERA, encontro de agroecologia em Juazeiro, Pedagroeco, desenvolvimento dos grupos de trabalho de agrobiodiversidade, gestão de conhecimento, lutas e resistência da terra e comunicação, a carta política da rede e a realização de feiras agroecológica.
Para os temas avaliados na reunião o grupo fez encaminhamentos que visam superar os desafios para a vivência da agroecologia em Alagoas, em um cenário de expansão do agronegócio, que não visa o desenvolvimento socioambiental.
Experiência agroecológica
No segundo dia de reunião, integrantes da rede visitaram a propriedade do agricultor Sebastião Damasceno na comunidade Lages do Barbosa em Santana do Ipanema-AL.
O agricultor mostra a importância de cuidar da terra, conservar a biodiversidade, produzir alimentos saudáveis sem uso de agrotóxico e as práticas de queimadas.
Feliz com a visita Sebastião Damasceno agradeceu a presença dos participantes da rede de agroecologia e o apoio da ASA (Articulação Semiárido), que luta por ações de convivência no Semiárido. “Tenho uma barragem subterrânea que conquistei com o Programa P1+2 da ASA. Minha barragem está cheia graças a Deus. Agora tenho água para beber e produzir. E produzo com respeito à Mãe Terra, porque a Terra dá tudo o que precisamos para viver, principalmente nesse período que a chuva cai no sertão e a Terra está grávida”, disse o agricultor.
A troca de experiência com a agricultura familiar fortalece a rede no caminho da agroecologia, que reconhece a Terra como um organismo vivo, com recursos limitados, e que tudo está integrado, por isso, defende a agrobiodiversidade.
Elessandra Araújo